Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de fevereiro, 2013

Pirapora

Expirado o quinto ano no campo de Iturama, a Missão me transferiu para Pirapora de Minas , às margens do São Francisco. Ali nasceu nossa filha Eline, e ali comemos o pão que o diabo havia sovado para nós. Dois grandes e inesperados problemas nos envolveram ali: o primeiro, a Missão fazia suas transferências sem consulta prévia a seus obreiros. Sem o sabermos, ela transferia dali o evangelista a quem a igreja amava e queria, e ela, Missão, não queria, e me colocava em seu lugar, sem que a igreja me quisesse. Aquele obreiro e aquela igreja criam com todas as veras da alma que eu era participante no complô. Nunca conseguimos convencer que éramos inocentes. Ali encontramos um dos homens mais difíceis do mundo, e, o que é pior, era presbítero. É muito complicado tentar explicar como é possível que homens como aquele cheguem a ser presbíteros, quando mal servem para ser meros membros. Aquele homem, associado a outras pessoas de seu círculo, e que eram contra nós, nos maltratou publicamente

Primeiro Campo

No final de 1963, recebia meu diploma de evangelista leigo e volvia as costas para aquela casa que veio a ser minha casa e minha família. Procurei cultivar e intensificar tudo quanto aprendera ali. No entanto, assim que parti com o convite da Missão Presbiteriana no Brasil para assumir um campo de trabalho, tive a nítida noção de que ainda não estava pronto para tal empresa. Isso me valeu muito, pois me forçou ao cultivo da humildade (virtude que andava e ainda anda longe de mim!) e do estudo sem trégua. Levou-me a programar a vida cotidiana, quer pessoal, quer familial, quer ministerial. Levantava-me de manhã e lia a Bíblia durante horas, sublinhando e memorizando textos; lia outros livros; vi-me forçado a comprar livros e mais livros, pois o que possuía era quase nada. Devorava tudo o que vinha a minhas mãos. Dava o maior valor a um livrinho. Procurava preparar-me bem, fosse para o sermão, fosse para o estudo bíblico. Com isso li e estudei muitos livros importantes; lia minha Bíbli

A Música

Ciente de minha grande carência de cultura, de experiência, de traquejo para o ministério, isso me proporcionou o intenso desejo de adquirir, ali, o máximo de conhecimento e de experiência. Enquanto todos espaireciam nos intervalos, eu me aferrava aos livros e às lições de classe. Até hoje os velhos colegas de IBEL , quando me encontram, se lembram desse cenário. Sempre tive a língua presa e uma péssima dicção. Naquele tempo, então, era muito pior. A professora Loyde Emerik ocupava a cadeira de português, e lutou muito comigo para corrigir diversos vícios de linguagem. “Valter, o pregador não pode falar assim!” Eu nasci assim, professora, e vou morrer assim. “Não é verdade. Todos nós corrigimos os defeitos de nascença.” De fato, aqueles insistentes conselhos da Profª Loyde deram resultado: consegui corrigir muitas coisas. Quando preguei meu sermão de prova – chamar aquilo um “sermão” é mera hipérbole! –, Rev. Saulo de Castro Ferreira era o professor de homilética. Durante a crítica,

Benedita

Em minha classe havia um aluno chamado Benedito Meneses , esse homem viera das bandas do Rio de Janeiro. Estava ali como uma tentativa de ser transformado num homem de Deus. Fora grande celerado, chefe de gangue, preso muitas vezes, abraçara o evangelho não sabemos como, pois não conhecemos sua história. No peito esquerdo faltava-lhe uma costela, arrancada por uma facada de inimigo, isso dentro do próprio presídio. Eu via nele uma grande vontade de superar o passado. Aproximei-me dele e fizemos uma forte amizade. Ele, porém, criava problema com todos os alunos. Todos tinham medo dele e o evitavam. Quando furioso, víamos em sua face um lampejo de fúria só contida pelo temor de Deus que então cultivava. Certa vez, Rev. Woodson pediu minha opinião sobre o Benedito, porquanto eu era o presidente da classe. “Valter, tenciono mandar embora o Benedito, pois tenho medo que esse homem crie um caso muito grave para esta instituição. Quero sua opinião como presidente da classe.” Lembro-me como

Primeiros Contatos com João Calvino

Rev. Woodson era homem de coração extremamente sensível. Explosivo, sim, porém sentia e chorava fácil com os outros. Naquele momento, ele chorou comigo! Pediu-me que aguardasse uns dias. Cerca de uma semana após aquele diálogo, ele me chamou outra vez ao seu gabinete. Então eu disse a meus colegas: Hoje é o dia de minha despedida do IBEL. Vou sentir muito a falta de vocês. Falei isso à beira do desespero. Ao adentrar o gabinete do diretor, minha surpresa foi chocante. Com muita emoção, com um sorriso largo, ele me disse: “Valter, você já não vai embora! Consegui-lhe uma bolsa para dois anos. O restante deste ano eu mesmo pagarei de meu próprio bolso.” Amei aquele homem; aprendi muito com ele! Ele me passou a ideia de que quem serve a Cristo deve cultivar a solidariedade, a compreensão, a sensibilidade; seu coração tem de ser tangido pelo coração do Senhor da Igreja; seu coração tem que bater com o dos outros. Como substrato teológico, o diretor promoveu a memorização do Breve Cat

Instituto Bíblico Eduardo Lane

Aquele ônibus estacionou-se na rodoviária de Patrocínio; era o destino final da viagem. Enfim, chegava no IBEL . Para mim aquele, sim, era um novo universo. Até então, não havia visto nem experimentado nada parecido. O choque existencial foi terrível; o contraste, chocante. Ao deixar o interior do ônibus, empunhando uma malinha surrada, deparei-me com um bando de pássaros em algazarra: eram Ibelinos de todos os recantos que ali chegavam para ou o início ou o reinício das aulas. Os veteranos festejavam o reencontro; os novatos se esquivavam ante o inusitado. Ninguém era conhecido. Aos poucos fui avistando alguns dos professores. Ao encontro dos alunos na rodoviária foram Miss Frances Hesser e Dona Ana Alvarenga. Aquela, a psicóloga de todos; e esta, a conselheira das moças. Há tempo que ambas viviam ali, e há tempo também que ambas abriram passagem rumo à morada dos santos, deixando para trás um rastro de luz que jamais deixará de fulgurar. Jamais imaginara que houvesse no mundo pes